15º Domingo do Tempo Comum – A Palavra Semeada

+ Sergio da Rocha
Cardeal Arcebispo de Brasília

O Evangelho segundo Mateus, que estamos lendo nos domingos do Tempo Comum deste ano, nos apresenta a parábola do semeador (Mt 13,1-23). Com o seu característico estilo catequético, Mateus organiza a narrativa em três partes: a) a parábola do semeador (v. 3-9); b) a finalidade das parábolas (v. 10-17); c) a explicação desta parábola (v. 18-23).

Esta parábola põe em relevo a ação de Deus que semeia por toda parte e, ao mesmo tempo, a importância do terreno que acolhe a semente. Quando há “terra boa”, isto é, quando a palavra é ouvida e compreendida, a semente frutifica. Daí, a insistência sobre a atitude de “escutar e compreender”, ao falar da finalidade das parábolas. Aos discípulos, é “dado o conhecimento dos mistérios do Reino dos céus”, transmitido pelas parábolas, porque sendo discípulos, escutam, compreendem e acolhem a Palavra. Aqueles que não creem em Jesus, fechados em seu “coração insensível”, “olham, mas não veem”; “ouvem, mas não escutam”. As parábolas são obscuras para aqueles que não têm a abertura de coração ou disponibilidade para escutar e acolher a palavra de Jesus. Aparece uma séria advertência a respeito das consequências do pouco que se tem na escuta e acolhida da Palavra: a pessoa que tem, receberá cada vez mais; quem pouco tem, acabará perdendo o pouco que pensa ter. Apesar de ressaltar o fechamento e a rejeição, Mateus apresenta como felizes não apenas os “olhos que veem”, mas também os “ouvidos que escutam”.

Por fim, na explicação da parábola do semeador, é destacada a força da Palavra semeada. Apesar dos obstáculos (pássaros, terreno pedregoso, espinhos), no final, a colheita é abundante, embora diversificada. A força da semente, fecundada por Deus, é também ressaltada pelo profeta Isaías (Is 55,10-11), recorrendo à imagem da chuva que cai do céu, tão esperada pelos agricultores para fecundar as sementes colocadas na terra. Deus não é apenas o semeador; é quem torna fecundas as sementes, fazendo-as produzir muitos frutos.

Na Carta aos Romanos (Rm 8,18-23), S. Paulo usa a imagem do “parto” para falar da nova criação, “libertada da escravidão da corrupção”, que aguardamos ansiosamente. A nova criação é dom de Deus, que deve ser acolhido mediante a escuta e vivência da sua Palavra. Em resposta à Palavra meditada, somos convidados a ser a “terra boa”, que ouve, compreende e acolhe o que Deus nos fala, rezando o salmo 64, que pode ser chamado o canto da colheita: “A semente caiu em terra boa e deu fruto!”.

14º Domingo do Tempo Comum – Manso e Humilde

+ Sergio da Rocha
Cardeal Arcebispo de Brasília

O Evangelho nos traz a esperança e a paz que jorram do coração de Jesus ‘manso e humilde’. O convite que ele dirige aos pequeninos e sofredores daquele tempo continua a ecoar hoje. A sua palavra se destina a todos nós, especialmente aos  “cansados e fatigados sob o peso dos fardos”, aos sofredores que necessitam de descanso em meio a tantas situações difíceis.

Encontram descanso os pequeninos, pessoas humildes e sofridas, pois no coração dos que se julgam “sábios e inteligentes”, grandes e poderosos, não ha lugar para Deus. Os fariseus e doutores da lei se consideravam justos e donos da verdade porque conheciam os inúmeros preceitos da Lei e alegavam cumpri-los rigorosamente. Por isso, não acolhiam a boa nova proclamada por Jesus. Eles julgavam condenados e indignos da salvação os que não conseguiam conhecer e cumprir os grande número de mandamentos, dentre os quais, pessoas com fama de pecadores públicos e tantos marginalizados em função de enfermidades, origem estrangeira ou outra condição. Ao contrário dos fariseus, muitos deles acolheram Jesus e passaram a segui-lo, integrando o grupo dos “pequeninos”, aos quais é revelado o Reino de Deus, motivo do louvor que Jesus dirige ao Pai.   

Naquele tempo, entre os fariseus, a imagem do “jugo” era aplicada a Lei, devendo ser carregado, de bom grado, através do seu minucioso cumprimento. Pela rigidez dos doutores da lei, este jugo tornava-se ainda mais pesado para os pequeninos que não conseguiam conhecer e cumprir seus 613 preceitos. Ao contrário, o “jugo” de Jesus é leve, trazendo “descanso” para os que o recebem.

Entretanto, o repouso oferecido por Jesus não implica em comodismo ou passividade. Ser cristão manso e humilde de coração não condiz com vida fácil. São Paulo, grande defensor da nova lei e critico dos fariseus,  exorta a uma vida nova, a vida “segundo o espírito” e não “segundo a carne”. Nós necessitamos continuamente da graça de Deus para viver segundo o Espírito. Contudo, a confiança na graça não exclui o esforço sincero de cada um, a atitude permanente de conversão, como resposta ao amor de Deus e ao dom do Reino.

O mundo de hoje, marcado pela busca do poder, do dinheiro e da fama, necessita do testemunho de fé e de simplicidade de vida dos “pequeninos” que encontram “descanso” no coração “manso e humilde” de Jesus. A profecia de Zacarias apresenta a imagem do Messias “humildemente montado num jumentinho”, portador de paz e esperança. Em nosso tempo, em meio a tanta mania de grandeza e conflitos, somos convidados a acolher e a seguir aquele que nos traz a simplicidade, o descanso e a paz, sendo mansos e humildes de coração, com Jesus e como Jesus.

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