O Bispo Polonês

Karol Wojtyła foi um dos últimos bispos nomeados pelo Papa Pio XII, tendo iniciado seu trabalho em um período novo da Igreja Católica, caracterizado pela figura do Papa João XXIII e pelo Concílio, ordenado na catedral do Wawel por Dom Baziak.

A situação da Igreja nesta época era complicada, estando a liberdade dos ambientes eclesiais regida pela coesão que o poder tenta minar e, de algum modo, consegue infiltrar-se. O regime comunista, depois da liberalização de 1956, empenha-se numa campanha de secularização das referências coletivas.

Os bispos denunciam estas medidas, por meio do envio de uma carta ao clero, em setembro de 1960, quando é abolido o ensino religioso nas escolas, e que tinha sido apenas restaurado em 1956 depois da libertação do primaz.

Wojtyła insere-se nesta situação complexa. Nomeado vigário-geral com a tarefa de coordenar a Cúria, acompanha os últimos quatro anos do administrador apostólico Baziak, que morre em Vasrsóvia em junho de 1962. Wojtyła se revela cuidadoso e disciplinado em cumprir os deveres tradicionais que, porém, realiza de uma maneira muito pessoal.

O intelectual, amigo dos estudantes universitários e dos professores, também é capaz de uma pastoral popular e operária, pela qual se apaixona.

Além do trabalho pastoral, Dom Wojtyła tem a responsabilidade de governo, como vigário-geral de Baziak. É a primeira vez na sua vida, porque nunca foi pároco. Por ocasião da morte de Baziak, o cabido da catedral de Cracóvia elege-o responsável interino da diocese. Era a prática prevista pelo Código de Direito Canônico. Mas tratava-se de uma prática bastante delicada por causa da situação do Leste.

Com a morte ou o impedimento do bispo (mediante a prisão ou o afastamento), os cônegos do cabido tinham de eleger o vigário. Os órgãos do Estado, aproveitando as fraquezas dos cabidos ou de alguns membros, faziam pressão para que fosse eleito algum dos padres colaboracionistas, em substituição dos bispos. A experiência tornou-se tão negativa que, no novo Código de Direito Canônico de 1983, desapareceu a figura do vigário eleito pelo cabido, e um colégio restrito de consultores, nomeado pelo bispo, escolhe o administrador diocesano.

Depois da prisão de Mindszenty, em 1950, o cabido de Esztergom elege Dom Zoltán Lajos Meszlényi contra a vontade do governo, tendo o prelado sido preso e eliminado. O cabido de Cracóvia se uniu para escolher Wojtyła, mostrando a união compacta do clero da diocese e, em geral, do clero polonês. O chanceler Kuczkowski levanta-se e ajoelha-se diante do Wojtyła, pedindo-lhe que assuma ele esta responsabilidade. E, assim, é eleito.

Karol Wojtyła então governou a diocese de 1962 a 1978, durante dezesseis anos.

Durante mais de um ano, de junho de 1962 a dezembro de 1963, a diocese continua sede vacante, porque o primaz não chega a um acordo com o regime para designar o arcebispo. Karol Wojtyła toma posse da diocese de Cracóvia no dia 8 de março de 1964, com uma liturgia solene na catedral do Wawel. É o primeiro arcebispo não aristocrata à frente da diocese, desde a sua fundação, como frequentemente observa.

Os tempos são difíceis e o horizonte está sombrio. Em 1965, o governo ataca os bispos e o primaz por causa da sua mensagem de reconciliação dirigida ao episcopado alemão, no vigésimo aniversário do fim da guerra, e na véspera da celebração do milênio do batismo da Polônia.

Mas a sociedade polonesa está fermentando. Em 1967, os universitários começam a manifestar-se contra o governo. Tadeusz Mazowiecki, primeiro-ministro depois da queda do comunismo, conta que, em 1968, quer conhecer Karol Wojtyła, para discutir sobre a política governativa antissemita e contra os intelectuais.

Naquele período, a campanha do governo é particularmente dirigida contra o primaz, porque é ele que dita a política do episcopado. Wojtyła nunca sofre as medidas que o primaz teve se sofrer, embora na fronteira lhe retirem o passaporte (diplomático) e lhe revistem a bagagem.

Por vezes foi seguido pela polícia, especialmente em 1966, durante as celebrações do milênio. Certa vez, quando saía da Cúria, notou estar sendo seguido, e então voltou e abençoou os agentes. Haviam, todavia, policiais que o respeitam, uma vez sendo parado por um deles, que o reconheceu e disse: “Oh! O nosso cardeal! Seja louvado Nosso Senhor Jesus Cristo!”.

Os comunistas logo percebem o erro que cometeram ao indicarem o seu nome para provocar uma divergência com o primaz. A unidade como primaz não está em discussão. O tom de Karol Wojtyła nos contatos com a instituição estatal é claro.

Para Wojtyła é inaceitável a subordinação da Igreja ao Estado. Alguns testemunhos concordam em que, na relação com os dirigentes políticos, ele sabe estabelecer a diferença entre os homens e o sistema, e procura uma via de encontro.

O seu silêncio sobre as questões políticas é eloquente. Não fala aos de fora dos temas religiosos e pessoais. O governo o observa de perto, e notam que seu prestígio vai aumentando, graças à participação no Concílio, e Karol Wojtyła é constantemente vigiado.

Os órgãos de segurança sabem claramente que Wojtyła é capaz de atrair jovens e gente de cultura, padres da Cúria, clero paroquial e religiosos, “sendo pessoa particularmente dotada e propensa à organização”, sendo tais órgãos contra a sua candidatura ao arcebispado.

Nos primeiros meses de 1965, Wojtyła obtém o visto do governo para participar da comissão mista sobre o “Esquema XIII”, que se reúne entre as duas sessões conciliares. É aqui que Karol Wojtyła desempenha um papel de protagonista. Propõe que se insista no ateísmo como fato decisivo, não só para os países comunistas, mas também para a totalidade do mundo moderno.

Karol Wojtyła afirma que é necessário dizer claramente que a imposição ao ateísmo, por parte do Estado, é contra o direito natural. Sobre estas temáticas, Wojtyła é uma das grandes vozes do Concílio. Para receber o Concílio, Karol Wojtyła quer a celebração de um sínodo diocesano em Cracóvia, cujos trabalhos duram de 1972 a 1979 (quando Wojtyła já era Papa).

Foi Arcebispo até 1967, quando então, com quarenta e sete anos, foi nomeado cardeal por Paulo VI.

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